Turismo e Radicalismo: utilizando a fantasia para perceber as problemáticas.

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Montagem referente a cena de racismo

Depois de vivenciar alguns dias do mundo mágico de Harry Potter, acabei me lembrando do artigo que eu e minha amiga Juliana Fernandes de Oliveira fizemos para participar do Fórum Internacional de Turismo do Iguassú.















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Turismo e Radicalismo: utilizando a fantasia para perceber as problemáticas.

Autoras: Carolina Meneses e Silva
               Juliana Fernandes de Oliveira

Resumo: Este trabalho, guiado por pressupostos do pensamento analítico e sociológico, objetiva investigar a maneira como algumas diversidades, que vão desde os preconceitos como racismo, sexismo, pessoas fora de um padrão, passando por rivalidades políticas (inclusive, muitas vezes incentivada pelos próprios políticos), esportivas ou de opinião, até chegar às suas consequências como bullying, violência, geram a divisão social e como essas mesmas influências modificam o turismo de um país. Essa análise busca identificar as possíveis causas e apresentar algumas sugestões para que essa divisão social não assuma maiores proporções para que, verdadeiramente, haja um turismo inclusivo.
Para atingir o objetivo citado anteriormente, Hogwarts - escola fictícia de bruxaria e magia do romance sobre o jovem órfão “Harry Potter” - torna-se objeto de estudo para compreender tal problemática já que o mesmo foi escrito em uma época muito difícil da vida da escritora J.K.Rowling que sofreu nesse período formas diversas de preconceito e que por esse motivo escreve sobre tais temas com muita propriedade.
Palavras-chave: Preconceito, Divisão Social, Bullying, Violência, Turismo, Planejamento Turístico, Ética e Inclusão Turística, Hogwarts.
Abstract: The purpose of this research, guided by assumptions of analytical and sociological theory, is to investigate the way in which some diversities, ranging from prejudice such as racism, sexism and individuals considered off standards to political rivalry (even if frequently incentivated by politicians themselves), in sports or opinions, and its damaging consequences like bullying and violence, create a social division as well as how these influences modify tourism in a certain country.This survey aims to identify probable causes and to present some suggestions so that this social division may not reach higher proportions in a way that there may truthfully be inclusive tourism.
To accomplish the previously mentioned objective , Hogwarts - feigning witchcraft and
wizardry school in the novel about the young orphan Harry Potter - becomes the object of the study so that such matter can be thoroughly understood since the book has been written during this tough time in J.K.Rowling ́s life who had suffered prejudice in various ways and because of it she is capable of writing about these issues with expertise.


Key-Words: Prejudice, social division, bullying, violence, tourism, tourism planning, ethics, social inclusion tourism, Hogwarts.




Introdução

Entre as desigualdades sociais observadas no Brasil, estão: preconceito racial - que, conforme Antonio Sérgio Alfredo Guimarães (2004), “consiste na ideia de que as desigualdades entre os seres humanos estão fundadas na diferença biológica, na natureza e na constituição mesmas do ser humano”- mas que, cotidianamente pode ser somente em relação à cor da pele, sexismo, visões radicais sobre superioridade de um gênero em detrimento de outro, preconceito contra quem é considerado “diferente” e, por fim, divergências com base em opiniões e visões políticas.
Por conseguinte, essas divisões e a existência da crescente intolerância – mantida pela sociedade com valores distorcidos – acabam gerando um aumento do bullying, acompanhado da violência física que assim influenciam e são influenciadas por diversos campos da sociedade, como segurança, educação, política, e turismo.
Apesar de haver uma teoria sobre o aumento do turismo inclusivo no Brasil, com opções para diversas tribos, tal atividade é mais excludente do que propriamente inclusiva, fato comprovado já que existem segmentações turísticas - que são atividades feitas para determinados grupos que obedecem a um padrão pré-determinado (não é uma opção que abrange tribos diversificadas em uma mesma localidade).
Assim, tal segmentação ocorre devido a uma problemática simples: o país possui diversas pessoas com julgamentos radicais sobre opiniões distintas (sejam elas políticas ou socioculturais) e suas consequências podem ser bullying, exclusão e violência física entre outras, já que nessa área - feita por pessoas para pessoas - tanto os profissionais quanto os turistas têm seus pensamentos, vivências e dado ao fato de que nos dias de hoje a divisão social está em alta com quem ou é “diferente”, ou “pensa diferente”, fica difícil que o
Turismo seja, realmente, inclusivo.


Desenvolvimento


Violência derivada do desejo obssessivo pelo poder( cena do filme)
O artigo abordará algumas questões sobre os temas supracitados e por fim, concluiremos com indicações de estratégias que possibilitem de fato o turismo inclusivo.A desigualdade social não trata apenas da condição econômica das pessoas, fato que pode ser percebido pelas diferenças que induzem positiva ou negativamente a realidade. Características como gênero, idade, crença religiosa ou etnia, ou uma simples divergência política ou social, por vezes são vistas dentro de um cenário baseado em um maior ou menor valor, isto é, são vistos como características aceitáveis, desejáveis ou repulsivas.
E a divisão social nada mais é do que um conjunto de desigualdades que causam impacto na vida de diferentes sujeitos de uma sociedade e o resultado é uma grande separação de pessoas.
Para entender mais claramente sobre o assunto é preciso pesquisar as teorias de dois grandes pensadores: Karl Marx e Max Weber. Apesar de ambas se basearem no fato de uma classe ser composta por um grupo de pessoas que se parecem em relação à posse de meios de produção, tais filósofos discordavam quanto ao foco principal do estudo já que Weber parte do indivíduo para entender o social (individualismo metodológico) e Marx parte da relação entre classes.
Utilizando essas duas vertentes na prática, é possível perceber que, além dessas teorias serem colocadas erroneamente por alguns políticos com a intenção de separar ainda mais o povo para ter um controle cada vez maior - estratégia utilizada desde os tempos dos Impérios, entre eles o Romano, e também presente em um capítulo do livro “A arte da Guerra” (SUN, 2012)- essa separação acaba gerando alguns problemas sociais que atrapalham, não apenas o turismo, como também a vida em sociedade. São eles, intolerância de opiniões e radicalismos, bullying e violência física.
É possível pensar em um mundo onde haja o equilíbrio entre as duas teorias supracitadas, com um pensamento “sócio individual” em que o indivíduo, buscando a melhora profissional, servisse também para pensar e projetar uma realidade mais altruísta. Uma realidade sem preconceitos ou divisões, sem dúvida utópica de acordo com a sociedade atual, na qual houvesse liberdade, igualdade e fraternidade de verdade.
Porém, na sociedade acontece exatamente o oposto, gradativamente mais preconceituosa, recheada de pensamentos e\ou opiniões excludentes, independente da temática abordada ou do teor cultural na qual está inserido o repertório de comportamentos, dando origem à uma intolerância extremista produzindo um conceito social (que antigamente atingia apenas as escolas) que, já há algum tempo, atinge outras esferas da sociedade, como, por exemplo, o ensino superior, as empresas, (nessas sendo denominado assédio moral) e os lugares que têm como objetivo trazer entretenimento ao indivíduo ou ao grupo no qual ele estiver inserido.
De acordo com o psicólogo José Leon Crochik – em “Bullying, preconceito e desempenho escolar: uma nova perspectiva” (CROCHIK, 2007), e em pesquisas sobre esse tipo de intolerância dentro do ensino superior, “a grande diferença entre o preconceito e o bullying é que o primeiro tem um alvo específico e está ligado a movimentos sociais: racismo, antissemitismo, LGBT fobia, enquanto que no segundo, o alvo pode ser o mesmo do preconceito ou não. Essa intolerância apresenta-se de várias formas de agressão dirigidas,
durante certo período, contra alguém que não consegue resistir suficientemente a essa ações”.
Porém, o autor anota, ainda, que “aqueles que cometem essa violência reconhecem em seus alvos algo que não podem reconhecer em si próprios: como todos, tendem a reprimir os desejos que têm por não poder aceitá-los. Então, tem de agredir esses alvos para fortalecer, nelas mesmas, a repressão da vontade que têm”.
Como mencionado anteriormente, esse mal social se expandiu para as universidades, e ainda com base nas pesquisas de Crochik, no ensino superior, é possível notar que quem tendia a ser o autor da agressão no ensino fundamental permanece assim nos demais segmentos acadêmicos – médio e superior. A principal diferença presente no ensino superior é que as agressões são mais de caráter psicológico, em forma de xingamentos, ameaças, boatos, apelidos, cyberbullying, entre outras. “Esse tipo de violência subjacente ao bullying é muito forte e está presente naquilo que parece ser mais arcaico e primitivo na nossa sociedade, que é essa vontade de querer destruir o outro, tirar a vontade dele, a liberdade, fazer o que bem entender e transformá-lo em objeto.”
“Os melhores alunos da sala (chamados de nerds) eram, antes, hostilizados, hoje não são mais.” O autor considera essa uma mudança histórica muito importante já que “as pessoas mais ricas do mundo, como Bill Gates [cofundador da Microsoft], usam sua inteligência para ficar muito ricas e isso está sendo valorizado. Dados socioeconômicos confirmam que, se você tem mais escolaridade, consegue mais renda”. Ainda de acordo com o autor, o problema está presente no “fundão” das salas já que alunos com desempenho escolar baixo tendem a praticar e a sofrer o bullying, mas frequentemente, sendo que aqueles que possuem maior destaque nos esportes apesar de baixo rendimento escolar são, com mais frequência, os agressores.
Dando prosseguimento à discussão sobre formas de violência, é preciso entender que em seu conceito individual e no âmbito geral estão intrinsecamente ligadas, “o desejo do agressor é destruir e submeter o outro a sua vontade”, ato presente em diversas formas de crueldade culminando ou não em agressão física.
Cabe agregar a essa análise aspectos sobre a violência no âmbito geral oriunda de diversos problemas sociais, sejam pelas desigualdades e/ ou divisões em classes bem como pela falta de oportunidades para um indivíduo menos favorecido, porém, com o desejo instaurado no meio social que o compele a ser “igual” e que decide conseguir tais oportunidades a qualquer
custo, além do pensamento individualista enraizado nos poderosos - que se permitem corromper e cuja ganância extrema faz com que tenham cada vez mais poder e dinheiro, mesmo que precisem usar da corrupção para conseguir tantos recursos (que não serão esgotados durante uma vida toda, independente de quão alto esse padrão de vida será).
Com essas informações, é possível diagnosticar o efeito “bola de neve”, traçando um paralelo entre os dois tipos de violência, nos quais a intolerância e o egoísmo afetam vários segmentos da sociedade, como na política, na educação, nos esportes, no entretenimento.
Consequentemente, no campo do turismo não é diferente.
É possível encontrar diferentes definições de turismo, algumas mais completas e outras menos, sendo a mais completa delas a de Beni (2001, p.36) que classifica turismo como toda viagem de ida e volta, que seja fora da cidade residencial, com permanência mínima de pelo menos 24h e máxima de 1 ano, que não apresente caráter remuneratório e que apresente pelo menos uma motivação, como lazer, esportes, religião, dentre tantas outras.
E, assim, por ser extensão da sociedade, o turismo vem se modificando e sofrendo fortes influências das diversas áreas sociais, (política, econômica, cultural, tecnológica). Com a tecnologia em alta, megablocos econômicos vêm sendo formados e por consequência a visão da sociedade foi radicalmente alterada.
De acordo com Luiz Gonzaga Godói Trigo (TRIGO, 2003), é possível entender um pouco sobre as necessidades de atualizar o turismo e o seu profissional, pois em determinados momentos, os próprios responsáveis pelo entretenimento ou lazer, acabam tendo um pensamento excludente, tornando-se contraditório falar de turismo inclusivo de qualidade, em outros termos, o profissional de turismo tem que passar por uma reciclagem e entender que assim como ele é um ser único, o turista com o qual ele lida também o é, e que se tal entendimento e respeito à opinião alheia faltar, ele ficará ultrapassado perdendo assim algumas oportunidades e clientes.
“Essa nova civilização traz consigo novos estilos de família; novos modos de trabalhar, amar e viver; uma nova economia; novos conflitos políticos e, em última análise, também uma profunda alteração da consciência do homem.
Fragmentos dessa nova civilização já existem hoje. Milhões de homens já estão ordenando sua vida pelos ritmos de amanhã. Outros, aterrorizados com o futuro, se desesperam e futilmente refugiam-se no passado, procurando restaurar aquele velho mundo que lhes dá segurança.” (TOFFLER, 1980)
Esse autor aborda aspectos socioeconômicos e os reflexos oriundos da sociedade pós industrial como um grande desafio, devido à complexidade e à diversidade do tema. Sem contar o fato de que ao final de cada período de mudança, a sociedade arrasta consequências de transformações no turismo que obrigam todas as atividades com as quais ele se relaciona a acompanhar, com particular atenção, às tendências e mudanças que forem acontecendo, quer no domínio da oferta, quer no da procura. Por esse motivo é essencial que haja uma mudança de visão do mundo e um maior respeito tanto entre os profissionais quanto em relação aos próprios turistas para que exista um turismo inclusivo real.
Mas antes da conclusão baseada em como modificar esse tipo de atividade turística é preciso pensar em um planejamento turístico percebendo a inclusão social a partir da compreensão do que são a cidadania, os direitos sociais e as políticas públicas.
Analisando o turismo como um negócio enfatizado apenas como um produto a ser comercializado, fica mais fácil entender que assim como no marketing, o planejamento também é essencial para o bom funcionamento e retorno que atenda as expectativas criadas.
Seguindo esse parâmetro, para conseguir êxito nessa elaboração é importante definir políticas e processos de implementação de equipamentos e atividades e seus respectivos prazos, com o intuito de aumentar os benefícios socioeconômicos e minimizar os custos, visando tanto o bem-estar da comunidade receptora, seja ela turística ou local (lembrando que o foco do
trabalho é realizar um turismo inclusivo) que logo se expandirá também à sociedade e à rentabilidade dos empreendimentos do setor.
Como a ideia é criar uma nova técnica para a realização do turismo inclusivo, é preciso pensar em uma estrutura grande, de preferência ao ar livre, que tenha atividades que atraiam diversos estilos em um só local, além, é claro, de um forte treinamento no que tange ao atendimento ao cliente, seja ele no campo real ou virtual, analisando cada perfil profissional para uma possível contratação num próximo evento baseada em excelência no atendimento ou
desligamento do profissional caso não atenda às expectativas.
Com o objetivo de falar sobre ética no turismo, é preciso entender o que significa ética e a importância dela, não apenas para o turismo como para uma globalização inclusiva. O termo ética vem do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa), e a conduta de ética nada mais é do que um ajuntamento de valores morais com o objetivo de existir equilíbrio e respeito entre as nações humanas, que como se pode ver na realidade, não é o que tem acontecido
nessa sociedade na qual o índice de violência e pensamentos individualistas atingem diversos segmentos sociais, lembrando que esses princípios morais são diferentes da lei, já que essa conduta não deve ser uma obrigação, mas sim um sentimento de justiça.
E com o intuito de estabelecer princípios que visam à contribuição do turismo para o entendimento e respeito mútuo entre homens e sociedade sendo o turismo usado como instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo, a atividade turística como fator de desenvolvimento sustentável prevê também direitos dos trabalhadores e dos empresários do setor turístico entre outros, a Organização Mundial de Turismo (OMT) criou o Código Mundial de ética do Turismo.
Esse regulamento traz, além das informações citadas anteriormente, meios que contribuam positivamente e minimizem os impactos negativos fazendo com que todos os envolvidos direta ou indiretamente colaborem em virtude do bem geral.
“Afirmamos o direito ao turismo e a liberdade de deslocamentos turísticos, expressamos nossa vontade de promover um ordenamento turístico mundial equitativo, responsável e sustentável, em benefício mútuo de todos os setores da sociedade e uma volta da economia internacional aberta e liberalizada e proclamamos solenemente com esse fim os princípios do Código Ético Mundial para o Turismo.” (OMT).
A ética serve para manter uma ordem social, logo o cumprimento dessa conduta está diretamente ligado a todos os campos da vida humana, ou seja, vai desde o lado comportamental, passando pelo profissional, relacionamentos e todas as outras áreas.

Turismo Inclusivo

Para que o turismo seja realmente inclusivo, é necessário entender que o processo de inclusão social se inicia com o objetivo de perceber e analisar que as diferenças individuais não deveriam ser motivos de exclusão, mas sim de inclusão. Levando para o lado lúdico, é impossível montar um quebra-cabeça com peças iguais. Comparando esse fato à sociedade, é interessante unir as qualidades individuais para que exista igualdade para todos. Dessa maneira, para atingir uma realidade inclusiva é necessário analisar duas perspectivas: a que vai do indivíduo para o grupo e a do grupo para o indivíduo. Assim é preciso que cada componente social possa ter sua própria opinião sem sofrer exclusão e que as oportunidades sejam equiparadas. Para Guimarães (GUIMARÃES, 2000) a inclusão social implica também a implantação de recursos flexíveis, através de um planejamento que considere a adequação ambiental e física de toda a comunidade. Tal planejamento acontece com o intuito de criar novas ações, que independem da classe ou status social, idade, gênero, opção sexual, condição mental ou física, raça, religião de cada indivíduo, para que cada indivíduo seja realmente um ser integrante de uma sociedade atuando para formar um todo, sendo capaz de realizar com autonomia, atividades de seu cotidiano sem discriminação (Bieler, 2006), inclusive concordar ou discordar sem precisar receber uma “punição social” (bullying, violências ou exclusão). De acordo com Christianne Gomes (GOMES, 2010), “o que está em pauta é a conquista do lazer, esfera da vida humana que representa um dos fatores básicos para o exercício da cidadania e da busca de uma vida com mais sentido e qualidade…”. Infelizmente, tem ocorrido exatamente o contrário nos dias de hoje já que a intolerância está em alta ser ou pensar diferente de determinado grupo de pessoas acaba sendo motivo excludente. Por isso, é importante que a estrutura dos processos de socialização seja modificada com a ideia de solucionar os problemas entre indivíduo e ambiente de modo que cada pessoa seja capaz de exercer a liberdade compartilhada e o controle sobre as condições de socialização aos quais está sujeita. O Turismo inclusivo surge como uma atividade que incorpora práticas inclusivas, propondo uma prática ampla e geral unindo a diversidade de pessoas, todos os segmentos sociais, e de forma transversal a todos os setores (Bieler, 2006). Entretanto, a ideologia de inclusão social vem sendo falseada tanto no Brasil quanto no mundo, fato que pode ser visto em diversas atividades turísticas que se dizem inclusivas, mas que na verdade são segmentadas, ou seja, feitas para um determinado grupo de pessoas, o que, segundo Gomes (2004), mascara as contradições sociais e da mercantilização da atividade turística. Com o objetivo de ordenar as ações do setor público, orientando o esforço do Estado e a utilização dos recursos públicos para o desenvolvimento do turismo no Brasil, foi criado o Plano Nacional de Turismo. Entre suas iniciativas principais se encontram opções voltadas para a inclusão social, entre elas: a integração da produção, cultura e culinária regional para o desenvolvimento da atividade turística, e também a definição das diretrizes para o desenvolvimento do turismo social, estimular o desenvolvimento da acessibilidade dentro desse campo, e por fim, sensibilizar o setor para a inclusão de pessoas idosas, com deficiências ou orientações sexuais diferentes. Ou seja, montar um modelo de desenvolvimento do turismo inclusivo, com ações de sensibilização e qualificação de gestores públicos e prestadores de serviços turísticos para o atendimento adequado e a adaptação dos equipamentos turísticos, além de outras boas práticas no setor que devem ser potencializadas e valorizadas por todos os entes da Federação e da iniciativa privada. Com o objetivo de analisar as teorias, por que não colocá-las em um espaço físico? Tanto as divergências sociais (política, orientação sexual e preconceito), quanto suas consequências (bullying, violência) podem e são melhor entendidas quando colocadas em uma localidade. Para fugir um pouco da realidade, mas sem sair de uma sociedade, em um lugar onde é possível “linkar” problemas sociais e de acessibilidade à escola de Hogwarts - escola da obra literária e cinematográfica fictícia de magia em Londres- que serve bem para analisar os problemas citados anteriormente. Primeiramente podemos comparar o preconceito enraizado por parte de um dos fundadores de Hogwarts, Salazar Sonserina, ao não querer aceitar sangues ruins, ou seja, aqueles bruxos que vem de família trouxa ( não-bruxa). Nesse caso é possível perceber um preconceito contra famílias com genes diferentes (preconceito racial). Ainda sobre as semelhanças presentes entre o mundo real e o universo mágico da saga de J. K. Rowling, destacamos a realidade do bullying que os Marotos, Thiago Potter (pai de Harry Potter), Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew fazem com Severo Snape (melhor aluno na aula de “poções”) simplesmente pelas diferenças de comportamento, de pensamento, de aparência e de “casa” em Hogwarts, já que os Marotos eram da Grifinória e Snape da Sonserina. Outro problema social acontece com relação entre a abastada e tradicional, porém corrupta família “Malfoy” (que se torna seguidora de Voldemort - o pior e mais temido bruxo da saga) e a decente e numerosa família “Weasley” (são sete filhos no total) que continua pobre por serem honestos. Há ainda um problema político da saga, que é a busca por poder desenfreado, do personagem Voldemort, em comparação com alguns políticos, e também a corrupção dentro do Ministério da Magia (a diferença é que na história alguns personagens estavam sob o efeito da magia denominada “Império”- feitiço que faz com que a vítima realize qualquer comando que lhe for ordenado pelo autor da maldição). Já na vida real essa maldição pode ser comparada com a ganância de algumas pessoas que prezam o dinheiro e poder a qualquer custo. Imitando a realidade, as consequências dessas adversidades se tornam uma “bola de neve” e aumentam gradativamente. Um exemplo do resultado proveniente do julgamento racial foi a criação da Câmara Secreta (local onde foi mantido um basilisco - serpente gigantesca - que tinha o objetivo de exterminar todos os nascidos trouxas) dentro da escola para poder purificar o lugar já que Salazar Sonserina não conseguiu convencer os outros três fundadores a aceitar somente “sangues-puros”(nascidos de família bruxa) . Outra consequência de problemáticas sociais foi a resposta de Severo Snape ao bullying sofrido. O futuro professor torna-se “Comensal da Morte”- nome que na vida real pode ser comparado com capanga de um bandido - e que persegue Harry Potter durante toda sua trajetória escolar por ser filho de Thiago Potter (um de seus algozes), mas se sacrifica para salvar a vida de Harry e morre como herói. O fato de Remo Lupin (que também fazia “bullying” com Severo Snape enquanto jovens) ser portador de Licantropia, que nada mais é do que uma doença transmitida pelo sangue assim como o HIV, e a poção preparada pelo agora professor Snape (que divulga a doença de seu algoz), faz alusão ao coquetel antirretroviral. E o preconceito que Lupin sofre (e é esse o motivo de sua demissão) pode ser comparado com o preconceito sofrido pelos portadores de AIDS devido ao medo irracional de sequer chegar perto desses doentes. A deficiência física também está presente no universo de Harry Potter através do personagem de Alastor Moody, que mesmo com suas deficiências é um dos melhores aurores (policiais federais ou agentes de inteligência da ABIN) mostrando que é possível superar qualquer coisa, independente das adversidades impostas a ele. Citando algumas ligações com o Turismo, é possível comparar o fato de que para se chegar a Hogwarts é preciso fazer uma viagem em um determinado meio de transporte - trem, vassoura, barco ou testrálios (cavalos alados de corpo esquelético cujas feições lembram um dragão). Sem contar que no filme “O Cálice de Fogo” (uma urna mágica de onde os nomes de três participantes para um torneio mortal sairão, mas que por ter sido alterada em função de um feitiço poderosíssimo escolhe quatro nomes) há um intercâmbio entre as escolas, transformando o castelo não apenas em um ambiente educacional, mas também turístico e esportivo por um ano. Já sobre a inclusão, é possível perceber que existe uma deficiência na escola já que algumas atividades não podem ser feitas por todos, um exemplo disso é tanto o jogo de Quadribol - que apesar de inclusivo quanto ao gênero, não importando sexo ou orientação sexual, é exclusivo na acessibilidade- quanto a arquibancada do estádio que não possui uma rampa, além da estrutura física do Castelo, que utiliza escadas e que também não possui rampas de acesso. Há ainda a exótica, porém amigável Luna Lovegood, que é criada pelo pai desde a morte de sua mãe, cujas manias e ações diferem completamente das ações do restante dos alunos, fazendo com que eles caçoem dela inicialmente, mas acostumada a estar sozinha sequer percebe que estão zombando dela e quando percebe não se importa. Outra questão que precisa ser abordada é: Harry fica órfão antes de completar um ano de vida e a responsabilidade sobre o local para onde ele vai nessa época fica a cargo do Diretor Geral da escola cujo nome é Alvo Dumbledore, mago extremamente inteligente e experiente que sabe que Voldemort (que é o assassino dos pais de Harry) voltará para matar também Harry Potter (o único sobrevivente após enfrentar o temido bruxo). Assim fica decidido que Harry não poderá viver no mundo bruxo e ser reconhecido, famoso e aclamado e então é levado para a casa de seus tios (trouxas) cujo filho é demasiadamente mal-educado, mimado, grande e forte enquanto o pobre, franzino e educado Harry vive na casa sofrendo “bullying” e sendo tratado como um serviçal, tendo ainda que vestir as roupas velhas, surradas e furadas que não servem mais para seu primo além de ser obrigado a dormir na despensa. Um recurso de Harry Potter que seria perfeito para os deficientes físicos seria a capa de invisibilidade, não para se esconderem da sociedade, mas para poderem descobrir informações e diagnosticar vilões e assim, olhar de frente para as diferenças, inventar alternativas e maneiras de melhorar, além de, buscar soluções para questões do cotidiano. O primeiro movimento é pensar no que está levando a tanta violência. Assim como fatores individuais e a família afetam, a cultura suscita e fomenta a violência E essas estratégias para solucionar os problemas obtiveram êxito, pois na última cena aparecem pessoas que antes divergiam de uma forma radical por qualquer motivo, convivendo em harmonia, e aproveitando a despedida de seus filhos que fariam a viagem para Hogwarts pela 1ª vez.
Considerações Finais


Com base nessas comparações e tendo em vista que no final da saga a inclusão social acabou sendo satisfatória, mas não perfeita devido a não acessibilidade total, foi possível analisar a importância de priorizar a ética, melhorar a infraestrutura entender que cada pessoa é única e tem grande importância na sociedade, essa será a chave para que exista de fato uma inclusão no turismo, pois é preciso que exista menos julgamento e mais apoio, respeito e uma maior “invisibilidade desejada”, para que assim as diferenças sejam percebidas e celebradas, sejam elas de etnias, religiões e credos, de esperanças de artes e linguagens e por fim, promover a liberdade, que significa garantir às pessoas as condições materiais, políticas, informativas, de integridade física para uma existência turística e geral, ética e solidária. É claro que o livro é imaginação e utopia, ou seja, a saga possui uma ideologia de que tudo vai dar certo, e não se pode acreditar em um final 100% feliz para a sociedade já que a sociologia nasce do caos e a população atual está cada vez mais intolerante. Porém, a partir da junção dessas analogias com o aumento da temática do universo de Harry Potter dentro do turismo (com hospedagens, passeios e museus inspirados na saga) é possível perceber as adaptações por causa da obra. Se a vida realmente puder imitar a arte, um final quase feliz aqui no mundo real também é discutível ao julgar que o turismo em Londres foi beneficiado a partir da ficção por que não propor que o ser humano (como forma de evolução) consiga se ajustar mudando, levando em consideração bons valores reconhecidos na saga de sucesso estrondoso como: coragem (para desafiar uma sociedade excludente e proteger os indefesos e menos favorecidos), compaixão (ao perceber que a empatia pode ser a “mágica” que está em falta), honestidade (que seja como uma capa que protege e aquece o coração do verdadeiro líder cuja conduta construtiva e altruísta traz cada caso à luz da razão quando aos seus seguidores faltar à retidão de caráter), otimismo (que seja como um caminho que conduz à justiça, à tolerância e ao amor), paixão (pela justiça, pela honra, pela dignidade, que traga harmonia), moral (que seja parâmetro e definidora das ações), ética (que norteie a conduta humana), caráter (que sofra influências de um meio saudável cujo foco seja a paz), responsabilidade social (que seja primazia, questão de vida ou morte, pois ela é) e gratidão (que está diretamente ligada à humildade, sentimentos presentes na caminhada chamada vida dando o tom, a cor e a beleza até só restar o silêncio e o fim). Assim, resta uma dúvida: Por que não utilizar alguns pontos positivos, que na história foram primordiais, para um turismo e para uma sociedade inclusiva, ética e solidária, na qual a diferença entre cada um é valorizada e inclusiva, e não excludente?

Referências:


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Código Mundial de ética do Turismo http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/PREVIEW_MTUR_Codigo_de_Etica_Turismo_120_210mm_Portugues.pdf

Plano Nacional do Turismo http://www.turismo.gov.br/images/mtur-pnt-web2.pdf

Esse artigo foi feito no intuito de mostrar a todos que é possível ter um mundo melhor desde que aconteça mais um pouco de empatia, vontade de ajudar e claro amor. Utilizando essas teorias na práica nem precisaremos tomar uma poção de Félix Felicis, ou poção da felicidade.