Coletivo feminista dentro da universidade, Pode ou Deve?

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                                                                                  Por: Carol Meneses
                                                                                  Foto: Luana Pitzer

Cefetianas do coletivo( CEFET-Info)
Cada vez mais os movimentos feministas vêm ganhando espaço em várias esferas da sociedade, como por exemplo nos esportes, na comunicação, nas empresas de uma forma geral, e até em escolas. Porém , o maior reconhecimento desse grupo continua sendo dentro das universidades, talvez pelo pioneirismo ou devido à insegurança e  ao medo nos campus continuarem em alta. De acordo com uma pesquisa, feita pelo Data Popular em 2016, com estudantes de universidades públicas e particulares de todo o país, “as alunas ainda se sentem muito inseguras dentro do ambiente universitário. 42% das entrevistas disseram ter medo de sofrer violência dentro da universidade e 36% já deixaram de fazer alguma atividade por conta disso. Outro dado chocante é que 27% dos alunos acham normal abusar de uma garota se ela estiver alcoolizada”. Nesse contexto, a união dessas mulheres de forma coletiva é  importante. E dentro do Cefet essa união de “girl power(s)” para combater a violência contra a mulher além de combate ao machismo, racismo e homofobia, também está com força total dentro do coletivo feminista Bertha Luz. E para entendermos um pouco desse emponderamento feminino, nada melhor do que conversar com 3  das Cefetianas, que acompanhadas  de outras estudantes da instituição, estão na linha de frente dessa batalha, são elas : a estudante de física Esther Guerra( 22) e as alunas de turismo, Beatriz Nunes(18) e Edivânia Caciano (21).
           De acordo com Esther, que estava presente desde o momento da criação do movimento, o grupo surgiu em um dia internacional da mulher, após o recebimento no grupo de whatsapp da turma de física com homenagens exaltando apenas a feminilidade do dia  e esquecendo das conquistas políticas, econômicas e socias das mulheres, e da luta para conseguir esses direitos básicos presentes nos dias de hoje. “Nesse dia, nos organizamos – não como coletivo ainda - para fazer cartazes e espalhá-los pela faculdade. Alguns dos cartazes retratavam frases machistas que já ouvimos de professores e colegas de turma, no entanto fomos censuradas e vimos isso no outro dia, pois tinham retirado vários cartazes. Logo após essa mobilização, fomos convidadas pela comissão organizadora da semana de física para fazer uma exposição sobre mulheres na ciência e foi um trabalho muito prazeroso e bonito, apesar da dificuldade em encontrar mulheres no campo das ciências exatas vinculadas a lutas sociais. Encontramos a Bertha Lutz, que é bióloga, e pioneira do movimento feminista no Brasil e ficamos contentes, pois no meio científico em especial, pouco se discute gênero. E logo depois desses eventos começamos a nos organizar como coletivo feminista Bertha Lutz.”- complementa a cefetiana de física. Tanto ela quanto Beatriz começaram a questionar essa diferença e, porque não dizer exclusã, a medida em que foram crescendo, isso porque não entendiam a lógica de porque os trabalhos domésticos ficam para as mulheres, enquanto que a diversão e conversas ficam para os homens? Já para Edivánia essa diferença foi percebida ainda na infância , quando era meio que excluída por seus colegas ao escolher jogar futsal com eles, a ponto de não poder escolher o time onde vai jogar e sempre ouvir comentários falando para ela ter cuidado. Porém essa batalha não engloba apenas o fato de não poder praticar esportes , anteriormente considerados apenas masculinos, ou de ter que ser “bela, recatada e do lar” ( alusão à função da mulher como dona de casa). Ela passa ainda pela violência física e psicológica , combate as discriminações raciais e de orientações sexuais, além de combater essa teoria de que mulher alcoolizada ou de roupa curta “merece” ser estuprada.
      Para as cefetianas a importância do movimento feminista no geral é bem grande: “O movimento feminista, a luta de mulheres que vieram antes de nós é que garantiram diversos direitos e conquistas que hoje podemos usufruir. A importância do movimento está na luta das mulheres por seu espaço conquistado, no seu grito por equidade e respeito às nossas falas. Quanto à receptividade no campus, temos tido uma boa aceitação. Recentemente solicitamos a instalação de um fraldário em todos os banheiros femininos, pois uma aluna de física estaria de volta à unidade depois de ter se tornado mãe e atenderem nosso pedido sem delongas e com elogios a nossa atitude. Como o pedido foi urgente, temos o fraldário instalado em apenas um banheiro feminino, mas em longo prazo teremos mais alguns.” – respondem em uníssono. Os piores desafios acontecem quando a “linha de frente adversária” está na própria faculdade, isso pode ser percebido por cartazes dentro da instituição que citam alguns casos entre eles o de 2 professores do CEFET e um provando que o movimento não busca pela exclusão de nenhum sexo perante o outro, mas sim pela inclusão de ambos: “O ambiente acadêmico já é exclusivo por si só, apesar desse cenário ter mudado bastante. O apagamento de obras e contribuições de mulheres sobre diversas áreas de estudo, principalmente na ciência é gritante, mulheres não podiam patentear suas descobertas e sofriam uma subjugação de sua intelectualidade e essa é uma das faces mais perversas do machismo. Outra face diz respeito aos homens que se sentem confortáveis em proferir discursos misóginos, sexistas e homofóbicos no ambiente acadêmico. Professores e alunos precisam se sentir imensamente desconfortáveis em externar esse tipo de discurso porque não tem graça, não é inocente e muito menos sem querer. É de extrema importância que as garotas se sintam seguras e confortáveis para denunciar certos tipos de “piadinhas” (vulgo assédio) de professores e colegas de turma, e isso só acontece quando existe uma rede de apoio à essas garotas, como coletivos feministas, setor de ajuda psicológica e etc. Com certeza. Queremos tornar o Cefet um lugar mais inclusivo no tocante às diferenças, pois já basta o tanto de exclusão que existe da porta para fora. A universidade deve ser um espaço de inclusão para todos.

    Tanto as 3 entrevistadas, quanto as outras meninas do coletivo pretendem que o movimento perdure para que as mulheres, os homens, homossexuais, heterossexuais, ateus e igrejas, possam viver em harmonia, respeitando e aceitando, ou pelo menos entendendo as especificidades de cada pessoa e que a forma de educação para seus filhos seja a mesma, independente do sexo. Porque só assim será possível viver em paz, tanto na universidade quanto fora dela. As meninas do coletivo deixaram ainda um recado  para que essa paz tão esperada possa virar realidade:  A diversidade torna a interação entre as pessoas muito mais interessante, deixa nossas vivências mais intensas e enche a nossa vida de aprendizados. Se as pessoas se conscientizassem desse fato, a estadia nesse planeta seria muito mais suportável porque existiria muito mais amor e compreensão e por consequência menos ódio. O respeito e a empatia são as coisas das quais mais precisamos agora. ”