Coletivo feminista dentro da universidade, Pode ou Deve?
Por: Carol Meneses
Foto: Luana Pitzer
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Cefetianas do coletivo( CEFET-Info) |
De acordo com Esther, que estava
presente desde o momento da criação do movimento, o grupo surgiu em um dia
internacional da mulher, após o recebimento no grupo de whatsapp da turma de
física com homenagens exaltando apenas a feminilidade do dia e esquecendo das conquistas políticas,
econômicas e socias das mulheres, e da luta para conseguir esses direitos
básicos presentes nos dias de hoje. “Nesse dia, nos organizamos – não como coletivo ainda -
para fazer cartazes e espalhá-los pela faculdade. Alguns dos cartazes
retratavam frases machistas que já ouvimos de professores e colegas de turma,
no entanto fomos censuradas e vimos isso no outro dia, pois tinham retirado
vários cartazes. Logo após essa mobilização, fomos convidadas pela comissão
organizadora da semana de física para fazer uma exposição sobre mulheres na
ciência e foi um trabalho muito prazeroso e bonito, apesar da dificuldade em
encontrar mulheres no campo das ciências exatas vinculadas a lutas sociais.
Encontramos a Bertha Lutz, que é bióloga, e pioneira do movimento feminista no
Brasil e ficamos contentes, pois no meio científico em especial, pouco se
discute gênero. E logo depois desses eventos começamos a nos organizar como
coletivo feminista Bertha Lutz.”- complementa
a cefetiana de física. Tanto ela quanto Beatriz começaram a questionar essa
diferença e, porque não dizer exclusã, a medida em que foram crescendo, isso
porque não entendiam a lógica de porque os trabalhos domésticos ficam para as
mulheres, enquanto que a diversão e conversas ficam para os homens? Já para
Edivánia essa diferença foi percebida ainda na infância , quando era meio que
excluída por seus colegas ao escolher jogar futsal com eles, a ponto de não
poder escolher o time onde vai jogar e sempre ouvir comentários falando para
ela ter cuidado. Porém essa batalha não engloba apenas o fato de não poder
praticar esportes , anteriormente considerados apenas masculinos, ou de ter que
ser “bela, recatada e do lar” ( alusão à função da mulher como dona de casa).
Ela passa ainda pela violência física e psicológica , combate as discriminações
raciais e de orientações sexuais, além de combater essa teoria de que mulher
alcoolizada ou de roupa curta “merece” ser estuprada.
Para as cefetianas a
importância do movimento feminista no geral é bem grande: “O movimento feminista, a luta de mulheres que vieram antes
de nós é que garantiram diversos direitos e conquistas que hoje podemos
usufruir. A importância do movimento está na luta das mulheres por seu espaço
conquistado, no seu grito por equidade e respeito às nossas falas. Quanto à
receptividade no campus, temos tido uma boa aceitação. Recentemente solicitamos
a instalação de um fraldário em todos os banheiros femininos, pois uma aluna de
física estaria de volta à unidade depois de ter se tornado mãe e atenderem
nosso pedido sem delongas e com elogios a nossa atitude. Como o pedido foi
urgente, temos o fraldário instalado em apenas um banheiro feminino, mas em
longo prazo teremos mais alguns.” – respondem em uníssono. Os piores desafios acontecem quando a “linha de frente
adversária” está na própria faculdade, isso pode ser percebido por cartazes
dentro da instituição que citam alguns casos entre eles o de 2 professores do
CEFET e um provando que o movimento não busca pela exclusão de nenhum sexo
perante o outro, mas sim pela inclusão de ambos: “O ambiente acadêmico já é exclusivo por si só, apesar desse cenário
ter mudado bastante. O apagamento de obras e contribuições de mulheres sobre
diversas áreas de estudo, principalmente na ciência é gritante, mulheres não
podiam patentear suas descobertas e sofriam uma subjugação de sua
intelectualidade e essa é uma das faces mais perversas do machismo. Outra face
diz respeito aos homens que se sentem confortáveis em proferir discursos
misóginos, sexistas e homofóbicos no ambiente acadêmico. Professores e alunos
precisam se sentir imensamente desconfortáveis em externar esse tipo de
discurso porque não tem graça, não é inocente e muito menos sem querer. É de
extrema importância que as garotas se sintam seguras e confortáveis para
denunciar certos tipos de “piadinhas” (vulgo assédio) de professores e colegas
de turma, e isso só acontece quando existe uma rede de apoio à essas garotas,
como coletivos feministas, setor de ajuda psicológica e etc. Com certeza.
Queremos tornar o Cefet um lugar mais inclusivo no tocante às diferenças, pois
já basta o tanto de exclusão que existe da porta para fora. A universidade deve
ser um espaço de inclusão para todos.
Tanto as 3
entrevistadas, quanto as outras meninas do coletivo pretendem que o movimento
perdure para que as mulheres, os homens, homossexuais, heterossexuais, ateus e
igrejas, possam viver em harmonia, respeitando e aceitando, ou pelo menos
entendendo as especificidades de cada pessoa e que a forma de educação para
seus filhos seja a mesma, independente do sexo. Porque só assim será possível
viver em paz, tanto na universidade quanto fora dela. As meninas do coletivo
deixaram ainda um recado para que essa
paz tão esperada possa virar realidade: “A diversidade torna a interação entre as pessoas muito mais
interessante, deixa nossas vivências mais intensas e enche a nossa vida de
aprendizados. Se as pessoas se conscientizassem desse fato, a estadia nesse
planeta seria muito mais suportável porque existiria muito mais amor e
compreensão e por consequência menos ódio. O respeito e a empatia são as coisas
das quais mais precisamos agora. ”